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"O primeiro 'one man show' do Brasil nos deixa uma contribuição gigantesca", diz Tom Cavalcante sobre José Vasconcellos; veja repercussão

 


Veja declarações de famosos sobre a morte do humorista:O humorista José Vasconcellos morreu aos 85 anos na madrugada desta terça-feira (11) em São Paulo. Vasconcellos era conhecido por conta do personagem Ruy Barbosa Sá Silva, que participou da "Escolinha do Professor Raimundo" e da "Escolinha do Barulho", onde apareceu ao lado de Marcos Plonka, morto em setembro.


"Zé Vasconcellos, o primeiro 'one man show' do Brasil, nos deixa uma contribuição gigantesca na área do humor nacional. Com textos próprios e cheios de um humor fino, alegrou gerações no país. Às novas gerações fica a dica de pesquisarem o vasto trabalho deixado por esse artista genial. Dencanse em paz, comandante do riso"
Tom Cavalcante, humorista

"RIP José Vasconcellos, primeiro brasileiro a lotar teatros com stand up comedy"
Bruno Mazzeo, ator

"Grande perda"
Silvio Luiz, narrador esportivo

"Esse homem era um espetáculo"
Bruno Motta, humorista

"Adeus, amigo José Vasconcellos, obrigado pelos conselhos e orientações. O Brasil perde um dos maiores de todos os tempos. (Para o Tom Cavalcante) Tom, nosso amigo José Vasconcelos nos deixou. Pena, né. Era uma pessoa muito boa. Me deu bons conselhos na carreira".
Guiga Ferreira, humorista

"Meus sentimentos à família de José Vasconcelos, pioneiro do humor na TV"
Celso Portioli, apresentador
 
"Morre o humorista José Vasconcellos, aos 85 anos"
Marcelo Medici, ator e humorista

"Foi um gênio!"
Marcos Mion, apresentador

"Que privilégio que eu tive, contracenar com Zé Vasconcelos, era muito bom fazer a rádio Tereré, que humildade! o Vasconcelos pegava um texto fraco, mais em cena ele tirava leite de pedra com seu talento! Tem um texto de seu LP do avião hilário!"
Geraldo Magela, humorista

"Meu amigo Zé Vasconcelos foi contar suas divertidas histórias no outro lado da vida. Que continue alegrando outros mundos, como fez aqui. Zé Vasconcelos foi o pioneiro na idéia de montar um parque temático no país. seria a Vasconcelândia. Não conseguiu, mas mostrou caminhos"
Mauricio de Sousa, cartunista

"Perdi mais um amigo, um dos maiores humoristas do Brasil. Quando olhei pela janela e vi esse o céu cinzento e horrível, pressenti algo de ruim. Não deu outra, perdemos o Zé. Ele sabia tudo sobre 'tempo' de humor, era incapaz de uma gosseria, de uma palavra mal colocada. A nova geração de 'comediantes' tem obrigação de rever VTs de um dos precursores do stand up. Seu humor era limpo, sem palavrões. No dia-a-dia também não falava palavrão, não precisava disso para fazer rir. Sua educação era tão grande quanto o seu talento. Quando eu tive a honra de dirigi-lo, era um exercício de sutilezas. Eu, na verdade, é que era seu aluno. Ele sabia tudo"
Homero Salles, diretor do "Programa do Gugu"

"Nossa diferença de idade era de uns 20 anos. Quando ele estava no auge, eu estava começando a fazer teatro amador. E ele foi um dos meus ídolos. Representou muito na minha carreira. Eu faço um pouco como ele, de criar personagens. Eu mudo de roupa umas seis vezes, e o Zé não precisava de nada disso, ele só mudava a cara dele. Era uma coisa impressionante"
Orival Pessini, humorista - intérprete do Patropi

"Morreu o homem que ensinou a todos nós a fazer stand up. O primeiro stand up brasileiro. Stand up completo, pq ele escrevia, interpretava, compunha, cantava e dançava, se não me engano. Foi o único humorista a fazer show em vários idiomas. O Zé era considerado um gênio pelos humoristas internacionais. E ele foi um gênio.

Eu decorei o LP inteirinho do Zé Vasconcellos. Uma vez peguei o trem, taxi e assisti uma apresentação dele em SP, e depois voltei para Catanduva e contei para todo mundo que havia assistido ao espetáculo dele. Depois a vida me presenteou com a sua amizade.

Hoje é um dia muito triste. Apesar de não ser mais um jovenzinho e estar sofrendo muito. E agora encontrou a paz, o descanso. Ele nunca desconfiou que havia envelhecido, ele morreu sem saber. Era uma criança, brincava como uma criança.

Morreu o papa do humor brasileiro. O grande professor"
João Ellyas, humorista - intérprete do Salim Muchiba

"Trabalhavamos três, quatro dias por semana, e nosso convívio era muito bom. Eu enchia o saco, brigava muito com eles por causa da alimentação. Eu encho a paciência, e ele também não conseguia fugir"
Paulo Cintura, humorista

"Era um grande amigo, um ícone do humor brasileiro. O primeiro inventor do show solo. Foi o primeiro a fazer. Era ele com uma orquestra, e a fila davam volta no quarteirão. É uma perda muito grande para o cenário artístico brasileiro, para o humor brasileiro. Ele foi o pioneiro, depois veio o Chico Anysio e o Jô Soares. O primeiro foi ele"
Iran Lima, humorista - intérprete do Cândido Manso

"Ele primava pela qualidade, foi o primeiro a fazer o stand up. O Zé vasconcellos ficava impressionado com o que o redator escrevia para ele. Mas ele era tão bom, que tirava leite de pedra. Quando interpretava um texto fraco, na voz dele, ele enriquecia"
Geraldo Magela, humorista - intérprete do Ceguinho

 
 

Homenagem ao Zé

O maior elogio que eu já recebi como autor-diretor foi do Zé:

ele tinha passado um apuro, em pleno palco, depois que lhe "deu um branco total"

e me disse que nunca mais queria passar por aquilo de novo.

Eu insisti:

"-Pô Zé, escrevi o personagem pra você!"

Ele deu a cartada:

"-Faz assim, manda, se eu gostar do roteiro eu faço!"

Alguns dias depois, ele me liga:

"-Paulo, você não escreveu um personagem pra mim, você invadiu minha cabeça e pôs no papel, o que eu mesmo penso sobre a vida. Esse vovôzinho maluquinho que você criou, sou eu."

 

Toda a equipe ficou encantada com ele, a gente estava em estado literalmente "de graça"! Nunca vou esquecer da minha querida amiga Fabiana Vajman, segurando uma "dália" pro Zé e ele devorando os textos, cena após cena, após cena.

Um banho de profissionalismo, uma aula master!

 

Depois da última cena dele, na hora de ir embora, ele olha pra mim e dispara:

"-Seu primeiro filme, né?"

Eu disse:

"-Sim."

Ele estende a mão pra mim e diz:

"-Meu último. Daqui pra frente é com você."

E me deu um abraço.

Esse abraço não teve fim, tá rolando até hoje!

Obrigado Mestre Zé!

 

Paulo Duarte

autor-diretor da comédia "It's Very Nice Pra Xuxu"

 

 

Depoimentos

O tempo de José Vasconcelos

Tive uma relação curiosa com José Vasconcelos, o humorista que morreu há poucos dias. Em casa, na minha infância, nós o adorávamos. Depois de ir com minha mãe ao teatro, meu pai comprou o disco “Eu Sou o Espetáculo.” Nós ouvíamos sem parar.
O disco nada mais era do que uma gravação do próprio show. A trilha sonora se iniciava com o barulho de palmas, ouvidas naquele momento em que o artista entra no palco e é recebido — educadamente — pelo público.
Nós ouvíamos o disco na volta da escola, antes do jantar, depois…Era tão frequente que, ao ouvir o barulho de palmas, minha mãe já ficava impaciente. Ela gostava do disco mas já se cansara de ouvir as mesmas piadas tantas vezes. Nós gostávamos mesmo assim.
Havia muitos discos que eram shows gravados, na época. Um outro, em casa, era da grande Marlene Dietrich. Era a preferida de minha mãe. Também começava com palmas. Uma das brincadeiras favoritas das crianças era colocar o disco do José Vasconcelos e dizer que era da Marlene. Ou colocar o da Marlene, e dizer que era do José Vasconcelos.
Graças às maravilhas do You tube, ouvi e vi dois momentos de José Vasconcelos, que você pode acompanhar.
O primeiro é um trecho do Eu Sou o Espetáculo, que é de 1960. O outro, foi uma entrevista no Jô Soares, dez anos atrás.
José Vasconcelos era um humorista do cotidiano brasileiro. Seu trabalho era a imitação, num esforço de observação para reproduzir a realidade, decalcá-la com gestos mas, especialmente, com a voz. Era um profissional anterior à TV. Seu recurso principal não era o gesto, mas o som. Um dos personagens de Eu sou o espetáculo era um radialista brasileiro, que morava em Londres e era apresentado assim: “Comentários por Aimberê da BBC…” Lembro de José Vasconcelos toda vez que passo numa ruma com este nome, perto de minha casa. Falo baixinho, imitando o imitador: “Comentários por Aimberê da BBC…”
 
Imitava pessoas mas também ruidos urbanos, como motor de automóvel, ronco de avião.
José Vasconcelos falava do homem da rua, do motorista do taxi, do cidadão comum que se perde em algum lugar numa “cidade grande,” como se dizia naquele tempo, não tem noção das coisas que vão acontecendo a sua volta mas, se não compreende tudo, tenta e consegue se virar. Tem uma noção completa de sua solidão e desamparo mas não se assusta.
Nunca vou esquecer do “seu ‘Chiado’”, personagem que você vai conhecer se entrar no link para Eu Sou o Espetáculo. É um sujeito que participa do programa de calouros do grande Ary Barroso. É criticado, humilhado, ridicularizado — mas vai em frente, sem dar sinal de dor ou sofrimento. Você não sabe se ele percebeu tudo o que passou e apenas finge que não sentiu nada. Ou se nem percebeu.
Há uma desordem saborosa no mundo de José Vasconcelos mas ela não é sempre bem recebida nem estimulada.  O brasileiro comum está sempre meio perdido, sempre pronto para cometer algum deslize até ser repreendido por alguma autoridade. Se não é o apresentador do programa de calouros, é um coronel da Aeronáutica que resolve dar uma lição num motorista que corre demais pelo Rio de Janeiro.
Se é possível achar alguma moral nestes esquetes, eu diria que eles mostram brasileiros que precisam ser advertidos para aprender a se comportar melhor, caso contrário podem se dar mal na vida.
O objetivo de seus espetáculos não era a estranheza, mas o reconhecimento.